quarta-feira, 1 de maio de 2013



Sobre “Uma Oração”, de Jorge Luiz Borges

(Jorge Luiz Borges era argentino, aos 50 anos ficou cego e é considerado um dos maiores escritores da literatura mundial. Morreu em Genebra, aos 87 anos).

Reli, dia desses, um belíssimo texto de Borges – Uma Oração – e não posso deixar de me sentir tocada, especialmente com seu final: o desejo do autor de morrer completamente, morrer integralmente, junto com o corpo e à maneira deste.
Esse mesmo desejo, de total aniquilamento , também está no poema “O Suicida”, quando diz:  “Morrerei e comigo irá a soma do intolerável universo”.
Não acredito que esse anseio expresse a vontade de um homem que cansou de viver ou que, em suas horas finais, desvalide as paixões que o moveram - seja por uma causa, seja por um livro, seja por uma mulher... A paixão é uma chama que se justifica e, pela sua própria natureza, uma forja da qual saímos transformados.
Essa aceitação de uma morte integral, mesmo ao completo aniquilamento, expressa em Borges,  não me parece voltada à autodestruição ou à busca do esquecimento da própria miséria humana. Talvez, antes, seja o desapego absoluto, asceta, pelo qual o homem é finalmente redimido. A suprema humildade de entregar-se ao que tiver de ser, mesmo que signifique o defrontar-se com aquela escuridão que a cegueira de Borges não poderia jamais igualar...Mas cujo mistério seu coração prenunciava.

(Marcia Pfleger – abril/2013)









2 comentários:

  1. A paixão é uma chama que se justifica e, pela sua própria natureza, uma forja da qual saímos transformados.
    Delicioso.

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  2. Simplesmente Tudo !!!

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