sexta-feira, 24 de maio de 2013



Reencontro

É estranho te encontrar agora...
Entre uma época e outra
haverá uma ponte?
Como é possível que o passado
nos alcance? Como é possível hoje
o que era ontem?

(Marcia Pfleger)




domingo, 5 de maio de 2013

Sobre exposições e mais um poema meu...

Neste domingo, fiz uso do dia e da boa companhia e fui visitar, no MON, a exposição de Escher (a qual já homenageara com um post no Face, há tempos). Achei interessante experimentar um certo olhar de caleidoscópio, que liberta o objeto de sua imobilidade e nos apresenta perspectivas inusitadas, conforme o ângulo de onde se olha.
Aproveitei e entrei na mostra do escritor paranaensíssimo Paulo Leminski, de onde saí inspirada, com meia dúzia de novos poemas pululando. Naquela atmosfera brumosa da exposição, marcada por grafitagem, fotos, colagens, vermelhos e sombras, para mim, não eram simplesmente os poemas que estavam no local, rabiscados nos murais: era como se o próprio poeta estivesse ali, esfregado na parede, eviscerado e desnudo.
Penso na facilidade com que as impressões me tocam, por mais díspares que sejam, e constato que meu termômetro é longo. Sou capaz de me comover com a mais tênue seda do espírito e, em outros casos... bem, eu e o Sr. Christian Gray faríamos uma festa! Assim, logo me chegou aquela sensação de fascínio quase orgástico que, no meu caso, precede a criação. Dessa influência, resultaram vários poemas, como o que apresento abaixo, embora sem a pompa e a circunstância de uma exposição...


In Versus

É sempre a outra face
Da mesma moeda:
Cara ou coroa
só depende da queda...

Deixe-me contar uma coisa
(ah, adoro sua cara de pasmo):
O ódio ainda é o amor,
Com outro tipo de entusiasmo

Então, nunca mais esqueça:
Uma coisa não deixa de ser,
Só por estar de ponta cabeça...

Vem cá, me beija na boca
E larga logo dessa besteira!
O ódio é apenas o amor
que resolveu plantar bananeira

(Marcia Pfleger - 05/05/2013)

quarta-feira, 1 de maio de 2013



Sobre “Uma Oração”, de Jorge Luiz Borges

(Jorge Luiz Borges era argentino, aos 50 anos ficou cego e é considerado um dos maiores escritores da literatura mundial. Morreu em Genebra, aos 87 anos).

Reli, dia desses, um belíssimo texto de Borges – Uma Oração – e não posso deixar de me sentir tocada, especialmente com seu final: o desejo do autor de morrer completamente, morrer integralmente, junto com o corpo e à maneira deste.
Esse mesmo desejo, de total aniquilamento , também está no poema “O Suicida”, quando diz:  “Morrerei e comigo irá a soma do intolerável universo”.
Não acredito que esse anseio expresse a vontade de um homem que cansou de viver ou que, em suas horas finais, desvalide as paixões que o moveram - seja por uma causa, seja por um livro, seja por uma mulher... A paixão é uma chama que se justifica e, pela sua própria natureza, uma forja da qual saímos transformados.
Essa aceitação de uma morte integral, mesmo ao completo aniquilamento, expressa em Borges,  não me parece voltada à autodestruição ou à busca do esquecimento da própria miséria humana. Talvez, antes, seja o desapego absoluto, asceta, pelo qual o homem é finalmente redimido. A suprema humildade de entregar-se ao que tiver de ser, mesmo que signifique o defrontar-se com aquela escuridão que a cegueira de Borges não poderia jamais igualar...Mas cujo mistério seu coração prenunciava.

(Marcia Pfleger – abril/2013)









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