sábado, 23 de março de 2013




Quisera

Quisera dizer  quanto percalço percorri descalça, o quanto a cardíaca gota de sangue é choque, quisera lavar, deixar alva a alma, calma a palma, calva a mente, totalmente sem. Quisera apenas o miocárdio do meio-dia, que fosse exatamente assim, meu coração ensolarado, a pino.

Quisera esquecer-me por deveras tanto, quisera transmutar-me e me ver não mais no espelho, mas no poço de água que sou à sombra, neste poço de água à sombra, no qual eu sou...sombra.

Quisera uma fagulha de luz do dia. O dia é generoso, enquanto me acovardo e renego, porque a chispa luminosa vai se multiplicar no labirinto de espelhos que eu sou, buscando o minotauro que eu sou...mas que sempre me esconde de mim...

Quisera a liberdade ainda que tardia.
Ou a libertinagem que dá taquicardia.


(Marcia Pfleger)

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